domingo, 19 de julho de 2009

Na memória

Ateliê
Donaldo Schüler

Movimento-me pelo Ateliê com olhos de espanto. O que vejo afasta-me de minhas experiências cotidianas.
Recupero-me do choque. Outros são os valores.
Fragmentos de outros tempos, de experiências esquecidas perfilam-se numa estante.
Insufla-se vida em materiais recolhidos do lixo. É um mundo no ímpeto de nascer. De renascer!
Surpreendo o caos no esforço de se organizar em volumes, em estátuas, em cores, em riscos.
Indagam a razão de ser?
Dedos descem como raízes a penetrar no solo. Um corpo se levanta, como a emergir do barro, indeciso, na dor de nascer. A boca abre-se num grito – de perplexidade.
No pátio lateral, ergue-se um corpo que se agiganta para além de todas as medidas em procura de uma divindade perdida.
De uma mão que se levanta soberana, fios descem como teias de aranha. Entre os dedos um achado. A vida?
Imagens do que é alinham-se numa série de fotografias, enquanto esculturas reinventam o que foi, indagam o que será. Rostos macerados de dor, de dúvidas. O Ateliê avança em processo de organização, resultado de um trabalho de muitos dias, de muitas mãos.





Um comentário:

Cristiane Löff disse...

Que delícia encontrar o texto do Donaldo aqui. Pra quem conhece o trabalho de ambos, um feliz encontro!